Poderá a realidade ser um sonho?





               O meu sonho não é o mesmo que o teu
Poderá a realidade ser um sonho?

Anamar despediu-se das amigas que moravam nos prédios cor-de-rosa da praceta e continuou a descer a rua, debaixo de uma chuva tão miudinha que mais parecia um agradável borrifo. Ao fundo, uma neblina envolvia a cidade, já iluminada pelas luzes cintilantes de natal. Estavam a chegar as férias, as prendas, os doces. Subitamente feliz, apressou o passo. Fazia aquele caminho todos os dias, mas só naquela tarde reparou num portão estreito entreaberto, talvez porque do seu interior um lindo e enorme cão preto a olhava de uma forma inexplicável.

- És tão giro! – Disse, enquanto se aproximava e a sua mão se afundava, depois, no pelo espesso da cabeça enorme do cão.

E foi com festas e brincadeiras que entrou pelo portão e seguiu por uma passagem estreita, entre as paredes laterais dos prédios, que dava para um pátio interior com canteiros de rosas gigantes. Um som confuso de vozes, risos e música atraiu-a para uma sala enorme onde crianças e adolescentes em grupos brincavam, jogavam, conversavam e riam. A alegria era tanta que ninguém prestou atenção à sua entrada. Enquanto tentava perceber onde estava, reconheceu, com espanto, a Clara, que deixara há pouco na praceta.

- Como podes estar aqui? Acabei de me despedir de ti …

- Viemos a esta festa bem fixe! – E apontou para Luísa que se divertia com outros amigos – e tu?

 - Foi mesmo por acaso que vim aqui parar... não sabia desta festa! Mas como podem estar aqui se mesmo agora as deixei na praceta…

- Cada um de nós teve de trazer qualquer coisa, um brinquedo, um jogo, um livro… para contribuir para o salvamento dos cães abandonados do nosso bairro – Disse Luísa que, entretanto, se aproximou.

- Isso faz sentido e é uma boa causa…, mas mesmo assim, parece-me tudo tão fantástico!

- E é! Podes crer! – Respondeu Clara de forma enigmática.

- Oh! Catarina! Tu aqui? - Perguntou Anamar à amiga, com quem falava quase todos os dias por Skype – Ontem ainda não sabias que vinhas? Não me disseste nada!

O sorriso da amiga tranquilizou-a, inicialmente, mas progressivamente sobreveio uma estranheza perturbadora.

- Porque… talvez porque quando estamos acordados não nos lembramos dos sonhos! – Respondeu Catarina.

- Que brincadeira parva! Até parece que estamos a sonhar!? – exclamou Anamar com indignação.

- Se calhar não…se calhar sim... pode acontecer que nada disto seja real, por mais que o pareça! – disse Catarina.

- Ora, a realidade tem tanta coisa estranha…não é preciso estar a sonhar…- Disse Anamar, acabando por perguntar  –Achas mesmo que podemos estar a sonhar?

- É uma hipótese… Mas nesse caso, o meu sonho não é o mesmo que o teu! – respondeu Catarina a rir.

- Que conversa! Ou que desconversa! Até estou um pouco estonteada! Ah! A minha mãe já deve estar preocupada, vou ligar! – E enquanto procurava o telemóvel na mochila acrescentou - Tenho de me ir embora!

- Olhe, desculpe! Olhe, ouça! – Gritava alguém ao mesmo tempo que atravessava, com esforço, os grupos compactos de jovens.

- Está a falar comigo? – Perguntou Anamar.

-Sim! Sim! A condição de entrar nesta festa é a contribuição de cada um com um brinquedo ou objeto cuja venda reverterá para a associação de animais abandonados… O que é que vai doar? - Disse com ar de poucos amigos uma rapariga muito mais velha.

Mas eu vim aqui ter por acaso… eu nem sabia desta festa! – justificou-se Anamar procurando o apoio de Catarina e acrescentando ainda – Posso trazer uma coisa amanhã!

- Não! Não pode sair sem deixar alguma coisa! Já disse! Deixe o telemóvel! É uma boa contribuição! – Insistiu a rapariga muito mais velha com um ar simultaneamente familiar e estranho, saída de qualquer filme ou livro de que Anamar não se lembrava.

- Isto não pode estar a acontecer! Disse Anamar, esforçando-se por manter a calma - Devo estar mesmo a sonhar! Só pode!

- Não te preocupes! Se estiveres a sonhar, nada disto é realidade! – Concluiu Catarina alegremente. - E nesse caso podes divertir-te aqui à vontade! Anda, vamos jogar!

                                                                                            (continua sessão apresentar razões)

O que é a realidade?
O sonho opõe-se à realidade?
Podemos pensar que estamos a viver a realidade e estarmos a sonhar?
Poderemos preferir o sonho à realidade?
Uma coisa pode parecer real e não ser? 
O que significa as coisas não terem sentido?
Os sonhos não têm sentido?
A realidade tem sentido? 
Somos nós que damos sentido às coisas?
O que nós pensamos tem sentido?




1 comentário:

  1. Muito bom texto. Excelentes questões para desenvolver o tema. E se acrescentares, o que é o sonho? e Podemos pensar que estamos a sonhar e estamos a viver a realidade?Uma coisa pode não parecer real e ser?

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